Artista plástica, grafiteira, artesã, educadora e empreendedora. Pat Campos é formada em Artes Plásticas pela UNESP e estudante em pós graduação em Planejamento, Implantação e Gestão em Educação à Distância pela Universidade Federal Fluminense (UFF -UAB). A artista cresceu em São José do Rio Preto, estudou em Bauru e residiu por 12 anos na Baixada Santista, onde realizou diversos projetos. Recentemente, (PC) mudou-se para Campinas no Interior de SP. Nessa entrevista, a artista fala um pouco sobre a sua trajetória e dos projetos nas artes.

 

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“A Arte revoluciona, torna o ser mais humano…” [Pat Campos].

Entrevista:

Como você iniciou na arte? E quais são as suas maiores influências?

Eu desde pequena tive o contato com a arte. Lembro-me de passar férias na casa da minha avó materna e ela dar a cada neto uma caixinha de lápis de cor com 6 lápis mini e muito papel de pão. Ela morava no interior de São Paulo, próximo a Minas e lá tinha uma única loja que vendia alguns materiais escolares. Icém, cidade aonde meus avós moravam, foi o meu primeiro contato com a arte, de forma muito natural. Era tão natural esse contato com a arte, que nossas brincadeiras eram todas muito criativas, meu avô nos ensinou a confeccionar carrinhos com tocos de madeira, fazer pipas bem coloridas e bonecos de sabugo de milho. Isso para mim era muito mágico, a partir de algo que parecia não ter valor para muitos, para nós se tornavam coisas incríveis. Ainda na infância, meu tio Valério, que é 14 anos mais velho que eu, me mostrava sempre um livro com técnicas artísticas, que ele havia ganhado de nossa prima Marisa. Ele foi a primeira e grande influência. Tio Valério desenhava muito e eu ficava ali, junto com ele desenhando, ao lado do rádio que tocava Rock dos anos 80. Além de influência artística, ele também me influenciou musicalmente. Sou fã de Rock, graças a ele, mas também gosto de Samba de Raiz, MPB e Rap. Tenho uns grandes clássicos em LP na minha casa. Marisa foi outra grande influência, ela desenhava meninas lindas com pastel seco, eu achava aquilo muito incrível. Meus pais grandes influências também. Minha mãe apesar de trabalhar em banco a vida toda, faz crochê como ninguém. E meu pai, que sempre trabalhou na área de construção, e me levava para visitar as obras com ele. Pensei em até fazer arquitetura por conta disso. Minha mãe, também sempre valorizou esse lado artístico dos filhos e nos dava sempre materiais para que pudéssemos nos expressar. Aliás, nos aniversários, eu sempre ganhava material artístico e no dia das crianças livros. Eu  também ganhava brinquedos industrializados e artesanais, mas amava ganhar material de arte. Outro momento importante para mim, neste caminho da arte são os meus artesanatos de infância, com minha amiga Vanessa. Fazíamos colares de miçanga para vender para os amigos da escola. Eu e ela somos artesãs até hoje, isso já há quase 30 anos. Acho que minha família é minha maior influência artística, também posso mencionar meu irmão mais novo Lucas, ele apesar de ter vindo depois de mim na vida, ele foi aquele que sempre me deu forças para continuar, pois viver de arte e não conseguir viver sem respirar isso, não é fácil. E por algumas vezes que pensei em desistir disso tudo, estava ele lá para me dizer, continue. E sei o quanto é difícil para ele dizer isso, pois por vezes ele já pensou em desistir também. Tenho muitas costureiras na minha família, e costurar, criar vestimentas, também é um dom artístico e tanto. Outra grande influência foi a escola, tive bons professores de arte e esses me ensinaram um grande universo de técnicas que uso até hoje. Poderia citar diversos artistas famosos, que sim, tenho grande admiração artística, porém o meu primeiro contato e minhas primeiras experiências foram essas e as valorizo mais que tudo.

Como é o trabalho que você desenvolve na arte urbana?

Bom, meu trabalho já passou por diversas mudanças. Quando criança eu produzia adesivos, depois na fase adulta descobri que existe a cultura dos stickers na arte urbana. Na infância, como sempre gostei de desenhar, eu fazia adesivos para presentear e vender para os colegas. Eram feitos desenhos em sulfite e depois eu usava o ‘contact’ por cima. Fazia com vários temas de desenhos animados, times ou letras. Eles eram colados em cadernos, janelas de quarto e carros. Era muito divertido e intuitivo. Em 1997 quando entrei na faculdade, abriu-se um portão gigante na minha frente. Eu, aquela menina que vivia no interior em contato apenas com aquele meu universo de casa de vó, pé no chão de barro e na casa de minha mãe, um universo bem bairrista, eu achava que o mundo era somente aquilo. Quando fui morar sozinha pela primeira vez aos 18 anos em Bauru, numa cidade totalmente desconhecida, estudar numa universidade pública e lidando com pessoas completamente diferentes, foi aí que conheci o mundo. Logo no primeiro ano de faculdade, o professor que ministrava a aula de Plástica, nos convidou para fazer parte de um projeto aonde íamos pintar muros de escolas e também interagir com os alunos que lá estudavam. Lembro-me como hoje que passei dias elaborando a arte que eu iria fazer. Quando chegamos de frente ao muro, pensei, como vou colocar tudo que pensei nele e lógico, tive que adaptar. O muro fala conosco, ele diz como ele quer a arte nele, então por mais que tenhamos um caderno de ideias e esboços, elas sempre são adaptadas ou até completamente mudadas quando se chega num muro. Fizemos mais alguns muros neste projeto. E depois disso, me apaixonei por grandes espaços abertos. Pintar na rua, nos traz liberdade e nossa arte interage com as pessoas que por ali passa. Mesmo sendo boa ou ruim essa interação, mas ela dialoga de forma rápida e direta. Bom, contei muita coisa sobre como iniciei, mas voltando a pergunta, no início eu fazia muita coisa sobre arte indígena, gostava das pinturas que eles faziam na pele, depois passei por uma pintura mais abstrata. De 2011 para cá, passei a pintar mulheres. Eu queria me expressar quanto mulher e queria ser vista na sociedade. Depois vi que muitas mulheres também tinham esse desejo. Em 2014, juntamente com meu namorado, ele que pintava personagens negros de Black Power, resolvemos juntar nossos temas e começamos a pintar mulheres negras e paisagens africanas para ressaltar nossas origens. E atualmente, estou com um novo projeto, ainda nessa linha, mas com uma nova abordagem. Quem escreve expressa em palavras, eu expresso com linhas, formas e cores.

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Quais os desafios que uma mulher enfrenta diariamente para ser reconhecida e respeitada no graffiti?

Acho que quando iniciei, era mais difícil. Não tinha muitas mulheres que fazia isso. Hoje eu acho que tem muitas mulheres colocando suas artes nas ruas. Acho que na sociedade, em certos aspectos, enfrentamos os mesmos problemas que os homens. Há quem gosta de nossa arte e há quem não gosta. Independente do gênero. O que é mais difícil ainda, assim como para qualquer mulher, é estar na rua, independente do que elas façam. Sair na rua, para as mulheres é um desafio todos os dias, tanto para sair para passear, fazer compras ou pintar um muro. É uma luta diária por respeito e por ser vista como igual. Eu continuo acreditando na desconstrução do machismo e no fim da discriminação com a mulher. Acho que esse é o nosso maior desafio e nossa maior luta. Quanto ao reconhecimento dentro do movimento, eu pelo menos, tive que batalhar bastante para mostrar que mesmo eu sendo mulher, era capaz de fazer o mesmo que os homens faziam. Porém, depois de conquistar meu espaço, posso dizer que sinto entre meus amigos grafiteiros que sou muito querida no meio deles.

Ah! E ser reconhecida e respeitada pela minha família também é muito importante. E sei que eles tem orgulho do que eu faço, pois isso me traz alegria.

Temos que batalhar todos os dias!!!

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Conte um pouco sobre as suas experiências como educadora.

Eu me graduei em Educação Artística. Em 1999, tive o meu primeiro contato com arte educação. Fiz um estágio não remunerado num instituto que profissionalizava meninos de 14 a 18 anos. Eu ficava numa sala aberta com 20 meninos, sozinha e não tinha um profissional me orientando,  eu ensinava várias técnicas artísticas que eles pudessem utilizar na vida profissional e que pudessem ganhar algo com o que eles fizessem. Então, ensinei colares de miçanga que eu conhecia, criação de peças de potes de sorvete, garrafas e tantas coisas. Em 2000, finalmente consegui um estágio remunerado numa empresa de grande porte, e aquele meu primeiro estágio foi um dos grandes motivos por eu ter sido escolhida neste outro estágio. Então acredito que toda experiência nesta vida é válida. Fiquei neste estágio por 2 anos e foi nele que aprendi quase tudo que sei ser profissionalmente. E desde então, sempre dizia que esse era o local que eu desejaria trabalhar assim que me formasse. Terminando a faculdade, fui dar aula como professora substituta no Estado. E 1 ano depois passei em num processo seletivo para dar aula numa escola de grande conceito nacional, inclusive estudei nesta instituição do pré a oitava série (como era na época chamados). Em 2004 passei no concurso do Estado e em janeiro de 2005 assumi o cargo no Guarujá. E foi aí que minha jornada na Baixada Santista começou. Além do concurso do Estado, também dei aula em escolas municipais da cidade. Ministrei aulas em diversas escolas de Guarujá. Em 2010, exonerei o cargo no Estado e em 2011 no Guarujá. Entre todas essas minhas jornadas escolares, também passei num processo seletivo em 2006, naquela grande instituição a qual tinha feito estágio em 2000 e 2001, a qual estou até hoje trabalhando. Eu amo o que eu faço, além de ministrar oficinas e cursos voltados aos temas de arte e tecnologia, também estou em contato com artistas e diversas áreas no universo artístico.

Recentemente, foi anunciado pelo governo federal, uma “MP” que visa retirar a obrigatoriedade de algumas matérias do Ensino Médio, entre elas a Arte. Qual a sua opinião sobre a medida?

Difícil até para falar sobre esse assunto. Em 1996, quando eu estava prestando o vestibular para Educação Artística, estava acontecendo essa mesma discussão. No fim, foi mantido arte no ensino fundamental e médio. E foi criada a nova LDB (lei de diretrizes e bases), e a partir de então a Arte foi mantida e reformulada. Embora sempre achei que uma ou duas aulas de arte na escola é pouco, mas antes isso do que nada. A Arte revoluciona, torna o ser mais humano, sem arte na escola o que podemos esperar dos seres humanos?

O que ganhamos nestes últimos 20 anos, nesta luta e conquista pela arte no ensino, podemos perder devido a essa MP. Muito triste! Teremos uma grande perda!

Na sua opinião, como é possível melhorar a educação no Brasil?

A educação no país deveria ser toda reformulada, mas não como estão fazendo agora. Nossas escolas parecem prisões. Cheias de grades, salas pequenas, muros enormes, pouco ou quase nada de natureza, muito concreto, muito mesmo. Quando você entra na sala de aula, já dá tristeza. Uma carteira atrás da outra e a mesa do professor na frente. Eu acredito que isso é a primeira coisa que deveria ser mudada, o espaço. Se o espaço é hostil, como cativar a criança e o adolescente? Depois creio que as aulas deveriam ser mais práticas para a vida. Estudamos algumas coisas, ou melhor decoramos algumas coisas que nunca terão sentindo na vida futura e outras que são primordiais, acabam sendo deixadas em segundo plano ou em nenhum plano. Eu acho que, por exemplo, educação financeira seria muito interessante aprender na escola, porém aprendi na prática, na raça, como quase todo mundo. Agora, arte, filosofia, sociologia e educação física, que estão querendo tirar do currículo, creio serem fundamentais para a formação do ser humano. Acho que também poderíamos ter uma disciplina para cuidar da natureza, aprender a cuidar da terra e a plantar. Educação alimentar também deveria ser outra disciplina, as crianças hoje em dia acham que as comidas nascem das caixas de congelados ou dos saquinhos. Elas não sabem de onde vem os alimentos e comem sem saber a importância de cada alimento. Posso estar sonhando, mas que educador não sonha? Outro fator muito importante é a valorização do professor. Esses profissionais fazem três jornadas de trabalho, por vezes leciona em 5, 6 ou mais escolas. O vale transporte é tirado de seu bolso, tendo somente o desconto de 50% nas passagens de ônibus. O vale refeição não dá para pagar a refeição do dia e para ele ministrar uma boa aula, tem que tirar do seu bolso o xerox ou qualquer outro material que venha utilizar. Fui professora de escola pública por 10 anos e quando ouço falar que querem  tirar os benefícios dos professores, fico me perguntando: Quais?

O professor de educação de base, deveria ser o profissional mais valorizado em nossa sociedade, pois depois de nossa família, é a pessoa que nos dá nossos primeiros ensinamentos.

Eu já dei aula em três períodos. Teve um ano que eu estava com 10 escolas e a noite trabalhava na instituição a qual estou até hoje. Sai do ensino público, pois não aguentava mais o ritmo. Eu estava ficando doente. E quando chegava na minha folga, eu tinha cadernetas e provas para corrigir, aulas para preparar. Eu vivia exausta. Exonerei o cargo, porque vivia cansada, doente e não tinha tempo para mim. Quem me conhece sabe que eu amo ensinar. Arte e educação são as bases do que sou profissionalmente.

Professor, muitas vezes não tem qualidade de vida, não tem tempo para dedicar a sua família ou simplesmente dedicar a algo que goste.

Entende? Consegue ver aonde está o problema com a valorização do profissional da educação? Vai muito além de um aumento no salário.

Fale um pouco sobre o Ateliê Flor de Margarida. Como teve início? Qual a proposta? E quais são os produtos desenvolvidos?

Então, ganhei uma máquina de costura de minha mãe, a qual ela tinha herdado de sua avó paterna. É uma máquina de costura Vigorelli (não se fabrica mais), ela tem em torno de uns 80 anos. Minha bisavó era alfaiate, costurava ternos. Meus bisavós e meu avô trabalhavam em uma tinturaria. Aliás, vi meu avô sempre tingir roupas a vida toda. Quando uma roupa parecia velha, ele tingia e tínhamos roupas novas. Era muito mágico. Na minha família, tanto materna quanto paterna, teve e tem muitas costureiras, cresci no meio das máquinas de costura. Eu tinha uma tia avó que era bonequeira e fazia roupinhas de boneca fantásticas. Eu tenho uma prima que criou os quatro filhos sendo costureira e eu amava quando minha mãe comprava roupa dela para usarmos, pois ninguém mais tinha uma roupa igual a minha e eu achava isso incrível. Eu teria tantas histórias de costureiras na minha família. Até quem não é costureira profissional, sempre gostou de uma máquina de costura, como minha avó, minha mãe e minhas tias. Costurar dá autonomia, você consegue ver num pedaço de pano, um vestido maravilhoso, ou numa roupa que parece não ter mais função se tornar uma outra peça fantástica. E eu acho isso incrível!

Eu quando criança brincava com minha mãe de fazer coisas. Fazíamos boneca com meia, bola de meia, roupinha de bonecas com retalhos, tudo costurado a mão. Eu até 2011, nunca tinha sentado de frente uma máquina e costurado. As máquinas em minha família era visto como algo sagrado e eu tinha até medo de chegar perto delas e desregulá-las, atrapalhando o trabalho das costureiras da família. Em 2011, minha mãe me deu a Vigorelli e ali, pensei, preciso ao menos saber fazer uma barra de calça e apertar uma blusa. Entrei num curso particular de 3 meses, para ao menos saber manusear a máquina. Dali em diante comecei a fazer várias coisas para mim. Como sempre, as coisas surgiram de forma natural. Costurei almofadas, porta celular e máscara de dormir. Empolgada, postei no meu perfil Facebook, os meus feitos e logo surgiu os primeiros pedidos de encomendas. Eu me assustei com aquilo, afinal eu estava descobrindo esse universo. E assim foi aumentando os pedidos. Isso já era meados de 2012. No natal de 2012, eu vendi muito, trabalhei até na noite de natal e no dia de natal costurando e entregando as encomendas. Foi que pensei, não posso mais ficar vendendo no meu perfil pessoal e tenho que criar uma marca e um estilo, foi então que surgiu a Flor de Margarida. Margarida é o nome da minha mãe e o nome da minha bisavó, a qual a máquina pertencia, por isso Flor de Margarida. O Ateliê no nome surgiu bem depois. Em 2014, entrei num curso de costura para moda e ano passado retornei a esse curso, assim fazendo mais um módulo. E isso me deu muita autonomia, eu costuro e arrumo minhas próprias roupas. E melhorou ainda mais o acabamento de minhas peças no ateliê.

O ateliê vem crescendo de mansinho.

Quando resolvi criar a marca, pensei nessas questões que aprendi em família, fazer coisas que as pessoas se identificassem, que fossem especiais para elas e que pudéssemos repensar na questão do consumismo. Acho muito importante valorizarmos os pequenos empreendedores, o consumo consciente e produto feito a mão.

Os produtos de linha de frente da Flor de Margarida são as carteiras, bolsas e acessórios, porém é confeccionado bonecas de pano, sapatinhos de bebê e diversas coisas úteis para o dia a dia.

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Qual a importância da divulgação através das mídias digitais para o seu negócio?

Como já mencionei na questão anterior, foi nas redes sociais que vendi meus primeiros produtos. Aliás, apesar de eu ter contas em sites de vendas especializados em moda e artesanato e também ter o meu site oficial, minhas maiores vendas sempre foi nas redes sociais. Então é isso, nos tempos atuais é de suma importância. Nela divulgo meus produtos, vendo e estou sempre antenada com as tendências.

Site: Ateliê Flor de Margarida

Facebook: Flor de Margarida

Instagram: Insta Flor de Margarida

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Você está desenvolvendo algum projeto no momento? E o que você pretende fazer daqui pra frente?

Na pintura e na arte urbana, desde que me mudei para Campinas, estou com um outro olhar para a vida, estou convivendo com pessoas diferentes, com uma cultura diferente e com uma vivência diferente. Também estou conhecendo lugares novos. Aqui não tem praia, mas tem parques lindos, amo ir ao Taquaral, me sinto em paz lá. Caminhando nas ruas, vejo muitas roseiras nas portas das casas, árvores nas calçadas. Aqui, tem árvores frutíferas nas ruas. Ao mesmo tempo, como toda cidade grande tem muito concreto, muitos viadutos e como todo centro de cidade tem muita poluição visual (placas, propagandas, muralhas). Observo tudo isso. E tudo isso ou está no meu novo projeto ou estou contestando o que não gosto com minha arte. Estou criando uma nova identidade artística, claro sem perder a minha essência que carrego desde os primórdios, mas acho bom repaginar. Continuo mantendo minha persona mulher com cabelos cacheados, mas ela está mais empoderada que a anteriormente, talvez porque eu me sinta assim e quero que minhas amigas também se sintam. Eu estou assumindo meus cachos e a minha persona reflete este momento. Outra coisa que acho importante mencionar é que amo estar em contato com a natureza e isso também venho questionando no meu novo projeto. O ser humano anda muito distante da natureza e também se distancia de si. E tento trazer esse diálogo em minhas pinturas.

Na costura, no ateliê, estou estudando o que que venho fazendo até o momento. Estou avaliando quais produtos quero manter, outros que pretendo descontinuar e outros que quero criar. Estou com muitas ideias, mas estou indo um passo por vez. Quero turbinar o site oficial para vender mais por lá a partir de 2017. Tenho vontade de abrir um ateliê físico daqui uns 2 anos para ministrar aulas de costura e também ter um espaço para atender as clientes. Pretendo comprar uma máquina de costura reta industrial, mas nunca deixar de usar minha primeira máquina de costura, a Vigorelli.

Enfim, como diz um rap que gosto: “Toda realidade antes é sonhada”.

Como educadora, mudei de cidade em busca de novas perspectivas tanto no trabalho quando na minha vida acadêmica. Aqui em Campinas, tem um campo amplo na área artística e quero ‘beber’ disto. “Quando a gente muda, o mundo muda com a gente.”, recitando outra música. É isso, mudei de localidade na perspectiva de que todas as áreas da minha vida possam mudar e prosperar.

Então, neste momento, é isto que estou fazendo. Um grande balanço da minha vida e replanejando tudo, seja na vida pessoal, artística, profissional, acadêmica e artesã.

Que mensagem você deixaria para as mulheres que sonham em ingressar nas artes e no empreendedorismo?

A arte para mim não foi uma escolha. A arte nasceu comigo. Não consigo me lembrar quando decidi que seria isso que eu seria na vida, viver de arte. Quando estava no ensino médio eu tive que escolher algo para prestar no vestibular e eu sabia que não queria ser médica, nem engenheira, porém fiquei na dúvida entre arquitetura, design e artes. Fiz um teste vocacional e o teste saiu exatamente essas três áreas em primeiro e as duas últimas, nutrição e biologia. Lembro-me como hoje e não tive dúvidas que arte seria a minha escolha, mas sei também que não foi a toa as duas últimas serem nutrição e biologia, afinal me preocupo muito com a alimentação, gosto de coisas saudáveis, orgânicas e vegetarianismo. E na biologia, adoro questões ligadas botânica e a vida animal.

Conto tudo isso para dizer, se é algo que está na sua raiz, se é o que você acredita, siga em frente! Tudo que é feito com amor e de verdade, deve ser levado a sério.

Quanto ao empreendedorismo, eu diria o que digo para eu mesma todos os dias quando acordo: ACREDITE!

Neste mundo capitalista, pensar no seu próprio negócio, viver de artesanato, realmente não é fácil, mas temos que acreditar e batalhar. Nosso trabalho não é só de produzir e vender, vai além. Ser artesão, MEI ou microempresa hoje em dia é questão de resistência. É fazer política também. É acreditar num mundo melhor e num mundo mais humano. Devemos valorizar mais aquele profissional do bairro, a quitanda, a costureira e a cabeleireira. Presentear as pessoas com produtos feitos artesanalmente. Assim podemos melhorar o nosso mundo e o mundo de todos! ACREDITE! É isso! Seu trabalho faz a diferença!

 

Considerações finais:

Quero agradecer o Urbano Independente por esta oportunidade. Esta oportunidade de ir viajar para o passado, de olhar para o futuro e aterrissar no presente. Muito além de uma entrevista, foi um momento muito íntimo. Foi um momento especial. Aonde pude refletir o que sou, ir a fundo nas origens. Ter estudado em instituições renomadas e ter um currículo bacana, sim, foi super importante, mas as minhas raízes foram o que me tornaram o que sou hoje, o estudo lapidou. E por ter lapidado é que vejo sua importância. Mas as raízes, essas não podemos esquecer nunca.

Uma coisa que eu gostaria de contar, é que por um momento da minha vida quis ser fotógrafa. E foi isso que meu deu um olhar maior para o mundo, de observar detalhes. Fiz um curso profissional de fotografia e comprei uma câmera analógica, a qual tenho até hoje. Eu adorava fotografar paisagens naturais e urbana. Na época para ter o dinheiro para comprar os materiais de fotografia (papel, filmes, químicas fotográficas e equipamentos), que não era barato eu fazia cantoneiras artesanais transparentes para vender. No mercado vendia a de papel nas cores preta, cinza e em papel rústico. [Viu, o meu lado empreendedora até aí? … rs.] A fotografia me deu um olhar para a cidade e para com a natureza, esse olhar está presente em tudo que faço até hoje, por isso achei importante mencionar. Hoje não sou fotografa, mas fotografo todos os dias tudo que eu faço e crio.

Para finalizar, agradeço minha família, meus pais em especial, que tudo que sou, devo ao apoio deles. Agradeço meus amigos, as pessoas que trabalham ou já trabalharam comigo. Meu alunos. Agradeço aos meus professores desde a infância e até hoje. Agradeço as pessoas que me ensinam todos os dias, mesmo não tendo às vezes um diploma, mas que me ensinaram e me ensinam muito, seja meu avô, minha bisavó, uma pessoa que passou por mim e me deu uma boa palavra e até mesmo aquelas pessoas que não me fizeram bem, mas me ensinaram também.

Se sou o que sou hoje é todo um conjunto de ações e de pessoas. Sou grata por ser quem sou e quero melhorar a cada dia.

Gratidão por essa oportunidade!

Pat Campos pintando com aquarela.

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